A única certeza que alguém pode ter, absolutamente, é que existe. Quando Descartes disse: "penso, logo existo", ele não quis dizer que se alguém pensa, alguém existe. Ele quis dizer que ELE, Renezinho, existe.
O mesmo Descartes levou este raciocínio ao extremo, cogitando a possibilidade de um "demônio" poder produzir toda a realidade que alguém vê, inclusive ele, e nada realmente existir... a não ser ele e, em tese, o demônio.
Dá pra exagerar mais ainda, e pensar que até o demônio pode ser produto da mente de Descartes, ou da nossa, ora.
Tudo isto que estou falando é só para dizer o seguinte: a única certeza absoluta que eu posso ter é que EU EXISTO, e tudo, absolutamente tudo pode ser produto da minha cabeça (que, como o Campello ressalta, é ENORME!).
Claro que este papo beira a psicopatia, e eu não acredito que só EU exista, por um motivo simples, EU jamais produziria um universo do jeito que é, nem a minha cabeça imaginaria os atos e fatos que existem. Então, a minha contraprova para o argumento de Descartes é apenas uma "sensação" de que a existência NÃO É A MINHA IMAGEM E SEMELHANÇA! :)
Se fosse, uma das coisas que não existiriam é o CAPITALISMO!
E assim entramos no tópico (AÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!! Finalmente!!!!).
O primeiro documentário do Michael Moore que vi foi "Tiros em Columbine". Gostei muitíssimo, a linguagem estava anos-luz da maioria dos documentários-padrão que eu via, texto rápido, dramático, extraindo da história o máximo possível.
Fui atrás então do "Roger & eu" que, apesar de mais amadorístico, também é muito bem conduzido, tem um tema interessante à sociedade moderna: o desemprego, a degradação das cidades, das pessoas usadas pelo "maquinário" neo-liberal.
Mas só com "Farenheit 11/9" é que virei realmente fã do cara, por ele ter ido diretamente ao encontro de toda a cretinice, toda a escrotice, canalhice, representada pelo Governo Bush Jr. . Isto é, afinadíssimo com minhas próprias idéias.
É claro que, neste meio tempo, eu procurei ter uma idéia um pouco mais abrangente da figura de Moore, principalmente porque ele começou a ter cada vez mais relevância e destaque, virando uma figurinha carimba no cinema e na política mundial.
Moore conduz, manipula, extrai, rodeia, cerceia... é verdade! Como qualquer DIRETOR DE CINEMA faz. Por vezes, é maniqueísta, claro. Por vezes, induz o expectador a uma conclusão que não é necessariamente a mais acertada, mas apenas aquele quer que seja.
(interlúdio: Michael Moore também não é Deus, pelo mesmo motivo que eu não sou e que você, minha querida e musa Maíra, também não é... você pode até ser uma "deusa", mas é em outro sentido, você sabe ;) !!!)
O último filme que vi de Moore, "Sicko", já foi com uma visão um tanto mais distanciada, embora tenha gostado muito do filme, o descaso com a população carente nos EUA é uma das coisas mais aberrantes que já vi. Lá, se você não tem grana, pode morrer na porta de um hospital que a galera não tá nem aí! E olha que não é nem um problema do "neo-liberalismo" (embora seja um sintoma), afinal, França, Inglaterra, Canadá, que não são exatamente "foice e martelo", têm programas de assistência pública de saúde muito eficientes.
Quando eu soube que o próximo filme do cara se chamaria "Capitalism: a love story", minha orelhas levantaram.
"Putz, ou vai ser uma porrada tremenda, ou vai ser uma chapabranquice da porra", pensei.
Nem um, nem outro.
De certa forma, a película de Moore é o seu trabalho menos "pop". De outra forma, é o trabalho mais importante.
Não é tão pop porque trata de temas como "derivativos", "swap", "hipotecas"... não tem muitas inserções engraçadinhas, não tem desenhos, e frequentemente ele pula de um assunto pra outro, com ligação, mas sem uma sequência argumentativa mais robusta.
Talvez seja o mais importante porque trata de um tema essencial para cada um de nós, cada ser vivo deste planeta: quem queremos ser.
A primeira parte do filme trata, basicamente, do que diabos houve em setembro/outubro de 2009 no EUA. Quem, porque, quando, como explodiu a bolha das hipotecas furadas. Para quem não viu o ducumentário INSIDE THE MELTDOWN, que indique neste post aqui, uma breve explicação:
- As regras bancárias nos EUA, principalmente a partir do governo Reagan, foram sendo mais e mais "afrouxadas", afinal, é o país-símbolo do sucesso do capital, a meca do consumo, então, quanto menos o governo metesse o bedelho, MELHOR;
- Os governos Bush acentuaram estas práticas de "desregulamentação", chegando ao cúmulo de o sistema financeiro americano praticamente permitir QUALQUER COISA, contato que desse lucro;
- É claro que quem se beneficiava com isto eram os mais ricos, pois pagavam menos impostos, especulavam mais, respondiam menos pelos seus atos, distanciavam-se mais e mais da realidade do zé-ninguém que, acreditem, forma a maioria da população americana;
- O cume desta farra (ou pelo menos o que se sabe até agora, pois há mais coisa surgindo) foi um novo "produto" que os bancos inventaram:
"Você que já tem sua casa, sua propriedade, que tal hipotecá-la? Isto é, eu te dou uma pusta grana por ela, mais ainda do que ela vale, daí, pra continuar morando nela, você vai me pagando aos poucos, em 20, 30 anos... pensa bem, Joe Nobody, você continua morando na sua casa, só que agora você tem grana pra viajar, pra comprar uma tv de 500 polegadas, para mandar o seu filho estudar em Harvard, o que lhe der na telha... outra coisa, se você, depois de um tempo, QUISER MAIS DINHEIRO, eu também te dou, a gente faz uma SEGUNDA HIPOTECA!!!".
A prática da hipoteca nos EUA sempre foi comum, o problema é que, de repente, isto virou o melhor negócio do mundo pros bancos, pois movimentava a economia como um todo: construia-se cada vez mais casas (os bancos emprestavam às construtoras), vendia-se cada vez mais casas (os bancos emprestavam aos compradores), hipotecava-se cada vez mais casas (os bancos faziam as hipotecas).
Só que há um limite, chega um ponto onde há mais virtualidade do que realidade. Onde estava todo este dinheiro que o banco emprestou? Quando ia ser pago? No futuro? Daqui a 20, 30 anos?
Como hoje os débitos e créditos são números em um computador, sem contrapartida no mundo real, os bancos foram acumulando "créditos" e mais "créditos" a partir dos "débitos" das pessoas, das construtoras, das hipotecas, e do diabo a quatro...
Num dia de outono de 2009, alguém, quem sabe um demônio cartesiano, pensou HEY, eu tenho uma grana neste banco aqui, vou tirar, porque estou querendo comprar uma ilha...banco, cadê meu dinheiro?
O banco pensou e disse:
- Ehhhh... bem... tá aqui...pode ser... quando eu receber de quem tá me devendo?
- Não, eu quero comprar minha ilha agora!
- É bem, é que, a gente não tem agora-agora...
Aí o cara da ilha disse pro amigo da nave espacial que contou pro cara da equipe de basquete que confidenciou pro amigo do vizinho do cara que comeu a prima da irmã do tio daquela gostosa do 201...
E todo mundo ficou sabendo e quis a sua grana, coisa parecida com o que houve em 1929, no crack da bolsa.
Aí o GOVERNO, o ESTADO, aquele que não deveria ter metido o bedelho na história, teve que tirar dinheiro dos CONTRIBUINTES, do povo, para pagar o rombo. Vejam bem, um rombo onde MUITA GENTE lucrou, os donos de bancos, de imobiliárias, de construtoras... e quem teve que pagar foi o povo :) .
Realmente, é a melhor democracia que o dinheiro pode comprar!
Na segunda parte, Moore apresenta uma questão interessante: o quão "cristão" é o capitalismo?
É uma pergunta meio esquisita, mas pertinente em um país que praticamente se gaba de ter uma "missão divina" de espalhar o "desejo de Deus" para o mundo...
Daí ele pega um monte de gente que desce o cacete no capitalismo. O detalhe que achei ruim foi que ele usou pessoas ligadas a igrejas católicas... nada contra a igreja católica especificamente, mas os EUA é um país majoritariamente protestante e a "interpretação" da riqueza como um sinal de que Deus está satisfeito com o rico vem de uma corrente também protestante. Então, ele pegou quem, tradicionalmente, defende que o cristão não pode acumular riquezas (e deve dar estas riquezas para o Vaticano, claro!). Talvez houvesse sido legal ele dar espaço para os defensores protestantes da "interpretação"... nem que fosse para detona-los depois!
Não há nada na Bíblia, muito menos no novo testamento, que justifique qualquer acúmulo de riquezas. Ao contrário, existem várias passagens que falam muito mal disto... mas os "cristãos", em geral, esquecem esta parte.
(Uma boa dica para quem gosta do assunto é o livro "o capitalismo é moral?", de andré comte-sponville).
A terceira parte, ao meu ver, é a mais fraca de todas, pois Moore se concentra em OBAMA, praticamente o alçando à condição de salvador, de enviado especial de Deus para os pobres, o que é uma tremenda bobagem.
Não que, simbolicamente, a eleição dele não tenha sido um marco incrível na história americana (até hoje, mal posso crer em um negro na Casa Branca), mas é que os EUA não são uma República de Bananas, nem um país em desenvolvimento feito o Brasil. Lá, os interesses estão muito bem assentados, alguém só ganha quando garante uma estabilidade e uma continuidade para muitas coisas. Nem que Obama quisesse ele iria mudar algo tão radicalmente, vide, por exemplo, as leis do sistema de saúde americano que continuam empacadas no Congresso, e talvez nunca saiam de lá.
Indico bastante o filme, pelo menos como provocação, ou, para aqueles que gostariam de um mundo melhor, mais justo, mais compassivo, mais "cristão", indico pela urgência e necessidade dos temas tratados para o nosso futuro.
Link para o filme e a legenda do Top Dez Filmes>>> F*** U, EUA!
Sardinha, você'stá muito serelepe, hehehe. E com relação ao filme, gostei. Vou ver se posto a parte II.
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