Em um passado distante, pessoas disputavam maratonas de dança brutais em troca de refeições regulares e um prêmio de $ 1500,00 para o último casal que sobrasse na pista. Esses concursos chegavam a se estender por semanas a fio com os competidores dançando nonstop, tendo descansos de apenas dez minutos a cada duas horas. Um apresentador animava uma platéia de pagantes que acompanhavam dia-a-dia o sofrimento do seu casal favorito. A intervalos de algumas semanas, era organizada uma prova de corrida ao redor da pista de dança, ao final da qual eram eliminados alguns casais que caíam abatidos pelo esforço extenuante. Algumas pessoas chegavam a adoecer seriamente durante a maratona, outras simplesmente a abandonavam após o esgotamento mental.
Avance no tempo cerca de setenta anos, inflacione o prêmio, aumente a platéia e tire as partes da dança e da boa música americana dos anos trinta. O que sobra é o espetáculo atual conhecido como Big Brother Brasil. Vendo A Noite dos Desesperados (nome que o filme ganhou no Brasil), chego mesmo é à conclusão desesperadora que nada mudou no shou bizes. A curiosidade mórbida e a falta de vida interior ainda são a lenha que movimenta a locomotiva da televisão comercial.
Se você votou para alguém ser eliminado, acha Pedro Bial um sujeito inteligente pacas ou diz que assiste ao BBB “pela experiência antropológica”, você é um babaca.
Se nenhuma das acima, continue lendo.
- Walk, godammit! I’m tired of losing!
O grito desesperado da personagem de Jane Fonda carregando um homem morto nas costas durante a corrida final define bem o leitmotif (essa aprendi com Sardaukar) de They Shoot Horses, Don’t They? (TSHDT?). Há elementos deliberadamente contrastantes no filme que acentuam o tom grotesco da história baseada em eventos reais: o repertório que comanda a dança automática dos competidores é feito de belas standards de jazz dos anos 30, incluindo a maravilhosa Easy Come, Easy Go; ou a antológica (pelo menos para esse serviçal que vos digita) cena em que a competidora grávida e miserável canta The Best Things In Life Are Free. Outro ponto alto é a lindíssima Susannah York, que faz o papel de uma starlet cuja beleza é degradada ao longo do filme for your viewing pleasure. Jane fonda está perfeita como a indignada e fatalista Gloria, o par dançante adequado para o personagem principal Robert (um obscuro Michael Sarrazin), mais um avatar de Mersault de “O Estrangeiro”.
Estou falando de um filme monumental. Na prateleiras de filmes como The Day Of The Locust e Sunset Boulevard, TSHDT? explora algumas questões relacionadas à resiliência humana que só parece surgir hoje em dia diante da ameaça da morte ou do desejo irrefreável pela fama e pelo dinheiro. De parte a parte, entre a platéia e os entertainers não há inocentes - o desespero toma conta da turbamulta e é vivido tanto na ânsia de reconhecimento quanto na necessidade de assistir de camarote ao sofrimento do outro.
Não costumo aprovar as “traduções” feitas aos título de filmes antigos aqui no Brasil, mas “A Noite dos Desesperados” consegue ilustrar bem a essência do drama dirigido por Sydney Pollack. Ou não vivemos todos a “noite” dos valores culturais e estéticos mais distintos da humanidade?
Não costumo aprovar as “traduções” feitas aos título de filmes antigos aqui no Brasil, mas “A Noite dos Desesperados” consegue ilustrar bem a essência do drama dirigido por Sydney Pollack. Ou não vivemos todos a “noite” dos valores culturais e estéticos mais distintos da humanidade?
But I digress, my dear Campello! Basta só dizer que é um filmaço e postar os links para os seis leitores do Equivocando ficarem satisfeitos.
Link do torrent (em duas partes)
The stars belong to everyone
They’re yours, they’re mine
The best things in life are free
Link do torrent (em duas partes)
Good. Mais um para a infinita (ainda bem) lista.
ResponderExcluirBaixe, vale muito a pena.
ResponderExcluirSe eu tivesse de fazer um título em português seria "Mas Não Se Sacrificam Cavalos?". O que acha Sardaukar?
Eu vi o filme faz muito tempo, numa "sessão de gala"... o livro, li há pouco (já vendi!), e gosto da estranheza do título original... eu não tentaria interpretar, deixaria mesmo "Eles atiram em cavalos, não atiram?"...
ResponderExcluirUia, que cousa tão "definitiva", Sardaukar.
ResponderExcluirComigo é assim, na porrada mesmo!!!
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