23.3.10

Netzwerkgeist

man-free-sign Frequento a internet desde os primórdios e sou do tempo de BBS e anterior a isto. Na década de 80, vi um MSX se conectar a outro MSX, lá do Rio de Janeiro, e conversarem: as letras aparecendo sem interferência de ninguém na tela, respondendo aos “oi” e “como vai” do cara daqui de Recife.

No princípio, para acessar a internet, precisávamos configurar o Winsock, que era a ferramenta que o Windows 3.11 tinha para se comunicar com redes TCP/IP (grosso modo). Na época configurávamos tudo: IP, máscara, gateway, DNS sem ter a menor ideia do que era aquilo (ok, provavelmente quase ninguém sabe até hoje o que é isso).

Só podíamos abrir um programa de cada vez: um Internet Explorer ou Netscape, um mIRC, um cliente de FTP, etc. Claro que os browsers não tinham abas. A coisa era tão primária que, se a janela do navegador não estava maximizada (em 640x480, claro), quando redimensionava a maldita, era necessário esperar dezenas de segundos até que a página renderizasse novamente. Uma tortura. Não gostava de esperar, mas não tinha jeito, então era o máximo.

Vi o Hotmail ser comprado pela Microsoft. Vi o ICQ se tornar febre, depois sumir. Sardaukar me apresentou um tal de MP3 e lembro que calculamos se, num drive de CD dual speed, era possível ler os arquivos a 128kbps. Sardaukar também comentou a respeito de um sistema operacional que não tinha essa coisa de licença de propriedade, era de graça, um tal de Linux. Presenciei a chegada do e-mail gratuito oferencendo incríveis 1MB de espaço. Vi um monte de gente escrevendo muito lixo nos tais dos web logs (ainda escrevem(os)). Demorei um feriadão inteiro baixando o White Album dos Beatles na undernet, via IRC. Conectei-me ao que seria o MSN Messenger. Adiantando um pouco a história, fui um dos primeiros a chegar ao Orkut quando não tinha nenhuma comunidade em português e bem antes do Google adquirí-lo. E consegui uma conta no Gmail na época que ninguém sabia o que era e quando se duvidava que uma empresa poderia oferecer 1GB de espaço pra e-mail. E de graça. E essa é a chave.

Numa rede tão imensa, tão heterogênea e cheia de pessoas sozinhas, as informações se espalham quando o objeto desta obedece a um dos seguintes critérios:

É de graça: browsers, comunicadores, freewares, músicas, vídeos, livros, jornais, pornografia, etc.

Está em promoção ou é oportunidade única: Você achou um local onde um determinado produto ou serviço está custando muito menos do que o habitual e o fato de você divulgá-lo não impede de você adquirí-lo ou não diminui o valor, material ou não, da coisa em si.

Possibilidade de ganhar prestígio: Você foi convidado e convida alguém a participar de um determinado serviço (Gmail, por exemplo) ou rede (Orkut, por exemplo), ganhando prestígio enquanto tem essa possibilidade de chamar outra pessoa para ser um dos escolhidos.

Numa imensa totalidades de sites que dão certo e oferecem algo pago, há uma parte onde se pode usufruir sem colocar a mão no bolso. Isto é, há uma área para os normais e uma área para os VIP. Não faltam exemplos: Rapidshare, World of Warcraft, Google Apps, etc. Até mesmo os softwares têm suas versões freewares ou te deixam utilizar até um certo ponto, até uma certa data (sharewares).

To share, compartilhar. Essa é a ideia. A internet ainda carrega muitos dos traços de suas origens: a gratuidade e a liberdade de acessar o que quiser, o gosto de terra-de-ninguém. A fronteira do pago, do fechado e do restrito está além do horizonte. É necessário preservar a sensação de liberdade para haver a possibilidade de uma empatia, ter a chance do cliente chegar ao seu produto – mas sem o rótulo de cliente. Afinal todos podem usufruir com ele, ele ao lado de muita gente que não paga um centavo – mas tendo um pouquinho a mais.

Desta maneira se faz muito gente se sentir especial.

3 comentários:

  1. Você é um dinossauro da net! :)

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  2. Pelo menos eu não dormia com um tk-85 debaixo do travesseiro, hehehe.

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  3. Que mentira da porra, eu jamais faria isto!







    Era um TK90x :)

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