Sabe, Campello, uma das coisas que me intrigam é de onde algumas coisas vêm... Algumas são mais simples de se saber, sabemos de onde a água vem; de onde a galinha transgênica da Monsanto vem; de onde o meu salário "virtual" vem...
Mas, de onde vem a simpatia inata por desconhecidos? De onde vem a paixão à primeira vista? De onde vêm as muriçocas, se o meu quarto está fechado? De onde você anda baixando aquelas coisas protegidas por PGP?
Não sei :)
O fato é eu simpatizo pacas com o Spike Jonze, diretor de filmes que gosto muitíssimo, feito o "Being John Malkovich" e "Adaptação", além de vários clipes musicais de bandas legais. Então, é muito fácil assistir a um filme de um cara que você já simpatiza, pois sabe que a probabilidade de você gostar é grande. Muito mais ainda se o título do filme é sobre onde estão as "coisas selvagens"!!!
Só que o outro fato é que eu não simpatizo com o Wes Anderson, diretor de filmes que não gosto, feito o "O Excêntricos Tennenbaums e "A Vida Marinha de Steve Zizou", além de outros de características bem parecidas. Então, é muito difícil assistir a filme de um cara que você já não simpatiza, pois sabe que a probibilidade de você não gostar é grande. Muito menos ainda se o título do filme é sobre uma "raposa fantástica"!!!
Voltando à questão da simpatia, o que diabos me faz gostar de um e não do outro? São jovens, ambos tentam fazer filmes "diferentes", meio independentes, com visões particulares sobre as coisas, gostam de trabalhar com parceiros frequentes, adoram maisoumenos o tipo de música que eu também gosto...
Lembrei agora de um amigo que sempre me mostrava os dicos que comprava fora do Brasil. Daí ele me emprestava um disco, dizendo que a banda era muito boa, que tinha um som de tal e tal jeito, que eu ia gostar porque gostava de tal e tal banda que era parecida... Eu ouvia e achava horrível.
Por quê? Eu nunca parei para pensar na questão como um todo, eram casos pontuais.
No caso do Jonze e do Anderson, talvez a solução de um é o problema do outro.
O Jonze sempre tenta criar algo minimamente "diferente" do que está acontecendo na indústria (não que isto seja um valor em si), e geralmente consegue. Ele tem como parceiro o Charlie Kaufmann, que é foda. Seus filmes sempre partem de premissas inusitadas, o que atrai de cara, mesmo com eventuais resultados discrepantes.
O Anderson fez um ótimo filme, Rushmore, e de lá para cá vem fazendo o mesmo tipo de história repetidamente. Ele tem como parceiros os irmãos Owen e Luke Wilson, que são... sei lá. Seus filmes sempre partem do mesmo lugar, famílias e pessoas disfuncionais, o que pode atrair de cara, mesmo com eventuais resultados discrepantes.
Então, para não prolongar demais isto aqui, que já vi que está indo para um caminho longo e chato, melhor falar dos filmes, né?
Ok, tudo isto acima é para dizer que eu gostei muito do filme do Anderson e não achei o do Jonze tão espetacular quanto parecia.
"Onde vivem os monstros" é uma espécie de fábula, onde um garoto vindo de uma família "normal" de classe média não tem tempo/saco para dar a atenção que ele quer/merece, principalmente porque o menino se ressente da falta do pai (pelo menos foi isto que eu achei), e acha que a mãe dá mais atenção ao namoradinho do que a ele. Um complexo de Édipo rejeitado básico.
O garoto, muito inventivo, que vive vestido em uma roupa que parece a de um lobo da vila sésamo, cheio de tudo e com raiva da família, pega um barco e vai parar em uma espécie de "never never land" dos monstros.
O filme então se passa em uma espécie de paralelo entre a vida real do menino e este universo fantasioso dos monstros que, por alguma razão que só os livros infantis entendem, acham que o garota é o "rei" deles.
E assim vamos nós!
O que tem de bom no filme?
A trilha é excelente, principalmente nos momentos alegres. Os movimentos dos monstros, principalmente quando derrubam árvores, são muito bem feitos e divertidos. O universo dos monstros é relativamente interessante, digo relativamente pois, apesar d´eles em si o serem, fica pouco detalhado o que mais compõe aquilo.
(- Porra, cara, é um filme infantil, não um tratado... não foi escrito por Tolkien para ter até mapa de Mordor, língua élfica e tudo mais...
- Eu sei, eu sei, é só uma opinião, foi mal...
- Tá...)
Voltando, apesar de gostar muito de filmes/livros "infantis", o filme não me cativou... talvez eu esteja ficando velho, ou talvez o livro tenha sido escrito para crianças um pouco menores, e o filme foi realizado mirando esta platéia mista (de 02 a 80 anos) que enche os bolsos da Disney, então ficou uma alguma coisa perdida no caminho...
Gostaria mesmo de fazer um teste de público sobre o filme, com meus sobrinhos de 10 e 6 anos, mas eles estão muito longe, então fica pra próxima.
De qualquer forma, indico para fãs do Jonze, para "eternas crianças", e para quem algum dia foi um "selvagem" :)
Já o "fantástico mr. fox", vi com total relutância, mesmo sendo baseado na obra homônima de Roald Dahl, de "a fantástica fábrica de chocolate". Como suprafirmei, não gosto do Wes Anderson, cansei de sua fórmula "família disfuncional" mui cedo. Só que este filme destoa ligeiramente de sua filmografia (apesar de bill murray esta nele, owen wilson estar nele, jason schwaterman estar nele, como vozes, claro!).
A película foi feita em alegado stop-motion, coisa que duvido um pouco hoje, deve ser um meio termo, isto é, stop+cgi, aqui e acolá. Nada que interfira no resultado.
Basicamente, temos a história do tal Mr. Fox, um raposa old school que tem verdadeira paixão pela sua atividade favorita, roubar galinheiros, como toda raposa que se preze.
Só que, em um de seus roubos, sua parceira de atividades criminosas e amorosas, revela que está grávida, e o faz prometer nunca mais roubar aves (pois é uma vida perigosa), e se dedicar à nova família, e arranjar uma profissão decente.
Três anos humanos depois (12 anos de raposa depois), Fox está assentado. Tem uma bela esposa, uma casa razoável e um filho meio esquisito (olha o disfuncional aí, gente!!!), mas se ressente o tempo inteiro da vida que abandonou, quer voltar de todo jeito a roubar aves...
Então, começa a bolar um plano, que envolve comprar uma casa-árvore junto ao texugo (grande empresário do ramo imobiliário) e, pelas costas da esposa, realizar grandes roubos junto aos 3 armazéns situados justamente em frente à casa-àrvore.
Então a história continua daí, com os planos de Fox, a inquietação do filho adolescente que deseja muito o reconhecimento do pai, e as retaliações os donos dos 3 armazéns que Fox rouba.
Há uma velocidade no filme que me deixou bem empolgado, as falas são rápidas, leves, mas não rasteiras. Algumas cenas são meio "casa de bonecas", isto é, abre-se a câmera e se mostra várias coisas acontecendo, ou muita movimentação em um mesmo plano.
Gostei bastante também do "design" do personagens. Não seguem o padrão Disney de proporcionalidade corporal. A divisão em pequenos capítulos, provavelmente seguindo o livro, também dá um toque divertido à história.
É claro que Anderson ainda é Anderson, e para quem gosta, os elementos estão ali, mas acho que há mais do que ele, o que só se confirmou nos créditos, quando vi que o roteiro é dele e de Noah Bambach, o roteirista de "a lula e a baleia", um filme meio fórmula-indie (não a categoria automobilística, mas o jeito desdenhoso que eu trato certos filmes "indie" ultimamente), mas que é bom.
Creio que este filme fez melhor a ponte entre a platéia 02-80 anos, e o indico muitíssimo para fãs do Anderson, para fãs de uma animação não tão convencional, bem como para aqueles que querem se divertir um pouco com uma história leve e legal.
Abaixo, os links, as usual:
Hasta, Campiello, hermoso, querido :)
Sardinha, Sardinha...
ResponderExcluirO que eu não gosto de filmes infantis são as cenas tristes. Porra, por quê? Desde muito cedo, não gostava de assistir a filmes infantis porque tinha partes que eu ficava sentido (uahuahauha, desabafo da infância). Preferia os filmes para adultos (não os pornôs, os normais). Ah... PGP datou, o negócio agora é TrueCrypt. Feladaputa :)