12.2.10

It Might Get Loud (2008)


A sorte dá demais a muitos e a ninguém o suficiente. (Horácio)

O que a epígrafe acima tem a ver com um documentário sobre três guitarristas de épocas diferentes que se encontram para falar sobre guitarras e música? Absolutamente nada. Só usei a frase porque o Sardinha citou uma da bíblia no texto dele e eu não queria estrear no equivocando por baixo da carne seca.

Sou doido por música e guitarras, então soube de cara que o documentário It Might Get Loud seria pelo menos interessante, quando Sarda, o maior flibusteiro do Botafogo, mo indicou. Era uma noite cálida de outono, se bem me lembro. Estávamos a bebericar nossos cálices de cointreau quando, num rompante, entra na sala ricamente decorada com motivos arabescos, o pálido serviçal com uma carta escarlate sobre a bandeja…

Fortes emoções na continuação.


Como eu ia dizendo, o Sarda me passou pelo msn o link pro trailer de It Might Get Loud (algo como “Segura Que Eu Vou Açoitar Aqui No Volume”, em tradução livre). Baixei o filme na hora, apesar de ter visto nele um indivíduo que não pode figurar nunca na mesma frase onde aparece a palavra “músico”.

Que Bono Vox é a Ivete Sangallo do rock, todo mundo sabe. Que o U2 é uma banda que deveria ter acabado depois de 1989 e antes de 1992, é chover no molhado. Agora, que o The Edge não toca joça nenhuma, isso NENHUM fã do U2 sabe. Rá!



The Edge, da Banda Calypso

Bem comparando, The Edge é o Chimbinha da Irlanda. Se você tirar os pedais flanger, delay e phaser do The Edge, o que sobra? No máximo aquele tocador de guitarra do Legião Urbana.

Mas o documentário em pauta não é só sobre ele, felizmente. É também sobre um grande sujeito chamado Jimmy Page. O cara que, antes de antes de beber sangue de bode e comprar uma casa no Crato, ralou bagarai como guitarrista de estúdio; o cara que inventou a guitarra com dois braços; o cara que mandou várias vezes Robert Plant criar jeito de macho. O Cara, enfim.

Pra fechar a trinca, chamaram o garotão Jack White, também conhecido como “aquele guitarrista do White Stripes". Como é meu dever cívico ter sempre alguma coisa contra os indies, digo que não gostei muito do jeito metido a mysteriôzo do meliante. Pô, Jack! o Bob Dylan dar uma de mysteriôzo em No Direction Home, pode. Você não, meu jovem. Mas, surpreendentemente, ao contrário de The Edge (como odeio escrever esse nome!), Jack White tem algum talento musical. Isso fica claro logo no comecinho do filme, quando ele constrói um instrumento mambembe com um pedaço de madeira, arame e um captador ativo e manda um som bem interessante no meio de umas vacas. Jack White marca um ponto.

Jimmy Page já começa o doc com uns trinta pontos de lambuja. Quando ele pega na guitarra os outros dois ficam com os olhos boiando. Ao longo do filme, J.W. marca mais uns (tirando um timbre sensacional de uma guitarra de plástico, comendo a própria irmã etc). E então chega a parte em que Dê Édji vai mostrar aos outros o que sabe. Preparação. Luzes. Ai é aquela coisa: tal, e liga pedal, e acorde pé-duro, e desliga pedal etc. Jimmy Page finge (mal) que tá curtindo. Jack White sai pra dar uma mijada. O barbudinho amigo de escola do Bono Vox termina mesmo sem marcar nada.

Resumindo: se você não sabe o que é flanger, delay, reverb, captador, acorde, timbre ou arabescos, veja o documentário assim mesmo. O troço é bem dirigido e atrativo até para os fãs da Banda Calypso.

Há ainda quem não saiba diferenciar um baixo de uma guitarra, e há quem não admita que está ficando careca e use eternamente um gorrinho de lã. Mesmo esses rupestres não deixarão de se arrepiar ao ver o tiozão Page fazendo o arpeggio inicial de Stairway to Heaven numa Gibson antigaça.

Vejam aí e tirem suas conclusões (contanto que entre elas esteja a conclusão que o The Edge é um mala.)

Ps. (especial para Sardaukar): repare na cena em que The Edge fica de frente para o mar, buscando inspiração na natureza, no fluxo das ondas; com a guitarra ligada em 19 racks de efeitos, 3 computadores e 7 amplificadores.

10 comentários:

  1. Huahauhauaha, post massa, Kastor. Bem-vindo ao brógui.

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  2. Esse Khastorii é mesmo um escritor nata. Larga a medicina maxo. Muito bom. huauhauha.

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  3. Esse tal de S.Kastor tem futuro.

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  4. vc é um tremendo d um filho da puta. quem é vc? vc sabe tocar algo? Vamos ver quem se matem no topo a muitos anos

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  5. pura inveja sua. è o estilo do cara. E agrada muito. Quero ver vc fazer oque ele faz e comprar o equipamento dele. Pura inveja.

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  6. Internet: serious business :)

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  7. Hahahaah, o cara entra pra xingar um post de 2 anos atrás, que manezão :)

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  8. E o teor da crítica que foi ótimo: é inveja, você falou mal porque não faz igual. POHÃM, assim ninguém poderia falar de ninguém. É o popular wood-on-asshole mesmo :)

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