15.2.10

Avatar 3D

James Cameron, pra mim, é uma espécie de nemesis do cinema como arte, pois basicamente oferece o que o povão quer: pão e circo.

E foi neste ânimo que comecei a ler as primeiras críticas sobre Avatar, quando o filme foi finalmente lançado. Aqui e ali, alguém falando mal, outros falando bem, as bilheterias estourando, recordes mundiais sendo batidos, as i´ve said: pão e circo.

A tendência era que eu nem fosse ver o filme, ou fosse apenas para dar uma olhada do 3D que, apesar de já estar presente nos cinemas que frequento há um bom tempo, eu não tive a curiosidade de ver, devo ser o “geek” menos interessado em tecnologia da face da Terra (mas isto é um outro assunto!).



No entanto, algum tempo atrás, lendo um pequeno review da Ana Maria Bahiana (não lembro agora onde, provavelmente no blog dela) sobre Avatar, me inditifiquei com o argumento usado por ela, qual seja, se ela fosse uma criança de 12 anos e visse Avatar, sairia deslumbrada, por ter adentrado em um mundo novo, tridimensional, repleto de magia, monstros, belos personagens azuis, etc… Não que ela não tenha gostado do filme, apenas constatou que não é mais aquela criança, o que não a impediu de curtir o filme, pelo contrário, ela curtiu muito.

Deixei então a euforia passar um pouco e aproveitei uma brecha de carnaval pra finalmente obter um ingresso da sessão legendada 3D.

No começo, fiquei mais preocupado em “entender” a relação do 3D com os meus olhos. Não sei se o meu leve astigmatismo deixava as coisas um pouco confusas, o efeito as vezes parecia estar nítido, às vezes parecia desfocado… e, às vezes, eu jurava que estava ficando zarolho por trás dos óculos!!! Até tentei colocar os óculos 3D por cima dos meu óculos normais, para ver se melhorava, mas não, fiquei foi mais estranho ainda…

Então encarei a parada e notei que, após um tempo, a experiência vai acostumando os olhos, e você percebe que ela é realmente interessante.

Então, este é o primeiro ponto central sobre o filme: SE PUDER, NÃO HESITE, AVATAR É UM FILME PARA SER VISTO EM 3D!!! Grande parte de seu apelo está nisto.

Mas e o filme em si? Bem, a história é “simples”, afinal, James Cameron é um homem de bilheteria, e forçar o cérebro das pessoas nunca foi o seu forte, nem sua intenção.

Jake Sully, um ex-marine que perdeu o movimento das pernas em ação, é contactado por uma corporação governamental com a tarefa de substituir seu irmão gêmeo, cientista recentemente morto, e que estava participando do Projeto Avatar, no qual foram construídos corpos idênticos aos dos habitantes do Planeta Pandora, os “Na´Vi”, misturados com o DNA humano, para que pudesse haver uma melhor interação entre os povos. Assim como se diz na internet, ou na religião hindu, um “avatar” seria a personaficação de alguém… então, como o construto biológico teria sido feito a partir do DNA do gêmeo de Sully, ele também teria a capacidade de “transferir sua mente” para dentro daquele corpo falso Na´Vi.

Dentro da corporação espacial, que nunca clarifica exatamente se representa toda a Terra, um governo, vários governos, existem dois pólos, os cientistas e os militares/negociantes. Para os cientistas, o planeta Pandora é um achado sem igual, oportunidade única de se estudar uma biologia, uma fauna, flora, uma sociedade totalmente diferente da terrestre. Para os militares/negociantes, Pandora só tem um valor, a fonte milionária de um minério chamado Onbutanum (ou algo parecido, não importa).

Alguns detalhes são jogados aqui e ali, para que possamos entender melhor o universo e o tempo que se passa o filme: a terra detonou seus recursos minerais, muitas guerras devastaram o planeta, a ciência é extremamente avançada (mas não é acessível para o cidadão comum)…

E existem os “Na´Vi”, que são uma espécie de indios americanos misturados com smurfs on acid. Resumindo, toda a bagagem new age: respeito à natureza, comunicação entre todos os seres, valorização dos seres acima das coisas…

Temos assim o “drama” do filme, extremamente maniqueísta: militares e homens-de-negócio nojentos querem explorar o planeta, enquanto os pobres e belos Na´Vi são os “bons selvagens”.

Eu havia ouvido falar que havia um forte sentimento “anti-americano” no filme, mas pensei que era maluquice da direita yankee, coisa da Fox, Rupert Murdoch, etc…

Mas não é que tem mesmo? Basicamente é um conto de imperialismo, onde o que não pode ser trocado vai ser tomado, onde a sociedade do bom selvagem ser destruída é apenas um efeito colateral. Basicamente, quase um paralelo com o que aconteceu nas Américas, quando a sanha por ouro dos europeus dizimou milhões de seres humanos.

Cameron é um cara bem esperto, ele bem sabe que há um “zeitgeist” mundial em que o filme se enquadra, esta rejeição aos valores imperialistas, liberais, consumistas… bem, pelo menos uma rejeição propagandeada, afinal, os mesmos meios que realizam esta propaganda são também aqueles que sustentam os valores que ela diz ser contra :) Mas esta é uma discussão longa demais.

Eu curti muito o filme, as cenas de batalha, a captação dos atores por trás do CGI dos Na´Vi, as cenas de batalha, os pequenos sustos que levei quando algo 3D saltava na tela, a aflição que eu sentia pelas alturas sempre mostrada no filme.

Uma aventura muito bacana, se eu tivesse 12 anos, estaria deslumbrado, dois pra viver milhares de histórias impossíveis em Pandora.

Por isto, sinceramente, indico o filme para toda a família, todos mesmos, até os mais chatos feito eu.

Já existem releases na net do filme, mas não irei colocar aqui pois TEM QUE VER EM 3D, CACETE!!!
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Esta acima foi a resenha de alguém que tentou mesmo ver o filme com bons olhos, límpidos, despretenciosos. Não leia abaixo se não quiser spoilers ou ver o meu costumeiro desprezo pelo Cameron.

Então, como eu penso em multitarefa, o que eu, não tendo 12 anos, penso, é: roteiro básico de filme da Disney (não os bons, aqueles bobinhos do tipo Pocahontas!), cheio de falhas, de coisas sem sentido, aponto apenas algumas coisas que me incomodaram:

- Se a população indígena era tão dispensável como ficou no fim do filme, e o planeta não era para habitação, que tal umas bombinhas e matar todo mundo? :) Nem precisava ser nucleares.;

- Como diabos aquelas naves daquele tamanho saracotiavam como beija-flores por entre aquelas montanhas suspensas (suspensas como, cacete?!?!?). Sei lá!

- Não há sentido algum no ataque por terra humano, manda míssel e pronto.

- Aquele papo new age dos Na´Vi… sei lá… eu sei, eu sei, respeito à natureza, harmonia com o cosmos e tal… mas, acho que há muita tolice ali também, esta coisa de “bom selvagem” é uma invenção iluminista!

- PQP, por que diabos o Sully inventa de atacar a nave-principal apenas no fim da batalha?!? Se para abatê-la só precisava de uma granadinha porreta, teria sido a primeira coisa a ser feita, não? :)

- Pô, e que planeta legal, né? Tudo nele tem um USB biológico, você pode se conectar até com os piolhos de cobra, é só acha a entrada e plugar!!!

- E o Jake, hein? Baita herói, já chegou abafando, agradando a Na´Vi Jessica Biel, depois vira o fodão montador do bichão mais feio do planeta :) O cara é foda, porra :)

- James Cameron roubou tanta coisa de tanta gente, que eu não saberia nem por onde começar… desde que roubou Claremont e Byrne para fazer Exterminador do Futuro, não conseguiu mais largar sua cleptomania intelectual. Passei o filme inteiro jurando que eu estava olha toda a ambientação dos Night Elves de World of Warcraft, desde a árvore principal até a multiplicidade de coisas brilhantes…

Mas, e daí, daí NADA!

Fiquei o filme inteiro pensando: se isto fosse um deseho animado, se não tivesse este monte de efeito, se não fosse 3D, era um pocahontas espacial… o que é basicamente verdade.

Não acho que exista arte ali, apenas pão e circo de boa qualidade.

O filme merece o Oscar 2010 de melhor filme, com absoluta certeza.

Explico.

O Oscar é um prêmio de indústria de cinema, de grande produção, tem que ganhar mesmo a produção mais espetaculosa.

Ou vocês acham mesmo que filmes como Gladiador, Menina de Ouro, Chicago, Crash, Titanic, são REALMENTE os melhores filmes de seus respectivos anos?

Ah qualé, me diga um ganhador de Oscar de melhor filme que eu te indico, no ano, pelo menos 3 filmes melhores!!!

Liga pra Oscar quem quer… eu não ligo, dá é sono aquela cerimônia chata pra cacete. Um monte de grandes atores embriagados pelo próprio sucesso, mais interessados em seus bolsos e em seus pequenos momentos no banheiro cheirando coca, ou transando com a starlet mais fácil, do que em fazer algo realmente significativo.

Todos pro inferno :)

É isto, fico por aqui…

p.s.: dentre a lista dos indicados a melhor filme, por mais doido que possa parecer, acho “Up” e “Distrito 9” melhores que qualquer um dos outros :)

p.p.s.: abaixo, deixo a palavra com o colega cinéfilo Adolph, em mais uma de suas manifestações esbaforridas:


3 comentários:

  1. Eu não vi e ia, inclusive, escrever um texto aqui com o titulo originalíssimo "Avatar, não vi e não gostei". Mas depois do seu texto aqui, não preciso mais (pode cancelar aquela grana que tu ia depositar na minha conta).

    Gosto de pensar que o cinema de massa sofre sempre influencias diretas da trinca infernal: G. Lucas, S. Spielberg e J. Cameron. Seja nos EEUU ou no Brésil. Bom, mas é só mais uma maneira de ganhar dinheiro limpo.

    Etc, etc.

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  2. Cabeção, carnaval + Avatar te deixam puto da vida! :) Breve meus singelos comentários, levemente contrários aos teus. Nham nham.

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  3. Detona, detona... detona que é de mamona! :)

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