10.2.10

Animações...

Tive um final-de-semana de total recolhimento, afinal, estou no Rio de Janeiro e, quem não quer cair na "folia", tá ferrado.

Para não me sentir ainda mais angustiado, coisa que já acontece normalmente, (afinal, viver é foda), decidi ver desenhos animados.

Vasculhei meu depositário fiel de DVDs e achei dois um pouco mais antigos: A Princesa Mononoke e Batman:Gotham Knight.

E um novo: Planet Hulk.

Primeiro, vi os de Super-Heróis, que é uma praia mais fácil.








Comecei pelo "Planet Hulk", que é uma animação nova, feita quase tintim-por-tintim em cima de uma saga do personagem recentemente publicada no Brasil de nome "planeta hulk" (ho ho ho).

De cara, achei inteligente a Marvel adaptar uma história de sucesso entre os fãs, pois a empresa sempre tomou um pau danado da DC quando o negócio eram adaptações para a TV/Cinema de seus personagens. É uma tendência que ela já viu que dá certo, vide as adaptações de "os supremos", por exemplo.

E não parecia uma tarega difícil, já que o roteiro é muito simples: uma cabala de figurões decidiu que o Hulk é um problema muito grande, que não dá pra resolver, a não ser matando-o (o que não vai rolar no universo marvel, né, gente!!!), ou o exilando em um lugar inacessível.

Daí, o Homem-de-Ferro, Sr. Fantástico, Pantera Negra, Dr. Destino e Namor conseguem atrair o monstrão verde pruma nave, com a intenção de mandá-lo para um planeta desabitado, cheio de vegetação/comida, para que ele não incomode ninguém, nem seja incomodado.

Quando vê, o verdão já está na nave, vendo o holograma do Homem-de-Ferro lhe contando sobre o assunto... e não gosta nenhum pouquinho. Começa a ficar com raiva, afinal, Hulk que é Hulk sempre fica com raiva... e quanto mais raiva, mais forte o Hulk fica :) Daí começa a quebrar tudo, inclusive o piloto-automático da nave. Resultado, o Hulk cai em um planeta longe pra cacete, depois do arco-irís, em OZ, daí encontra Dorothy... não, mentira, ele cai em um buraco negro brilhante e surge em um planeta habitado.

O planeta Sakaar é então o novo lar do Hulk. Controlado por um tirano, que gosta de usar seus prisioneiros, ou dissidentes, para seus espetáculos de gladiadores, é lá que o nosso amigo vai parar... e começa a pauleira.


Hulk então começa sua ascensão na Arena, lutando ao lado de aliados eventuais e de inimigos terríveis. Muita, muita porrada. Não é um desenho para crianças, pois consiste de extrema violencia em alguns momentos :)

O desenho segue quase à risca a história em quadrinhos, algumas modificações aqui e ali, como a troca do Surfista Prateado pelo Bill Raio Beta. Não fica muito bem explicado como o tirano consegue o controle dos prisioneiros através dos 'anéis prateados", coisa que fica melhor explícita nos quadrinhos.

É um bom divertimento, principalmente para quem gosta dos personagens, isto é, fás da Marvel e cia. A indicação principal é para eles então, e para jovens nerds que adoram uma pancadaria desenfreada!


Comecei a ver sem saber exatamente do que se tratava. Depois de um tempo, lembrei que era um "desenho promocional", igual ao Animatrix, feito entre os lançamentos de Matrix II e III, para aumentar o interesse nos filmes. No caso de Batman:Gotham Knight, era o chamariz para The Dark Knight, segundo filme dirigido por Christopher Nolan para o revival do personagem.

Antes de tudo, acrescento que "begins" e "dark night" finalmente trouxeram para a telona o verdadeiro personagem Batman. Os filmes da década de 80/90, Tim Burton, Joel Schumacher, aquilo era um pastiche revival do Batman da década de 60... não era O Batman fodão dos quadrinhos.

A primeira coisa que notei foi que, como Animatrix, o filme era dividido em episódios, cada um com um desenhista e roteirista diferentes. É uma opção legal, afinal, com a dominação Pixar/Diney do mercado, sempre parece que toda animação do mundo tem o mesmo aspecto, o que não é verdade, vide o festival Anima Mundi que rola todo ano.

Gostei bastante da abordagem do primeiro episódio, pois tem muito da mitologia do personagem, o medo e a admiração que ele provoca na cidade de Gotham, onde ninguém sabe, ninguém entende exatamente o que é ele, o que ele faz, quais são suas motivações. São três pontos de vista (quase quatro), sobre o Batman, relativamente discrepantes um do outro, que valem pela comparação entre os mesmos.

A segunda história tem um clima mais "policial", tira bom-tira mau, que achei meio chata. O terceiro também é meio chato, satélite quebrado, burocracia na WayneTech... blergh.

As coisas melhoram nos últimos 3, achei muito interessante "Working Through Pain", que é o Batman em seu estado mais natural.

Ao fim, não fiquei muito empolgado, creio que as histórias do Batman têm um
certo limite, pois revolvem sempre em torno das mesmas coisas: psicopatas assassinos, as ruas sujas de gotham, alguém descobriu a identidade dele, o que ele faz com Robin em noites chuvosas no escuro da Batcaverna...

Acho que ele é um personagem "burned out", isto é, massificado demais, exposto demais, feito o Homem-Aranha, Wolverine... perdi um pouco de interesse nele.

Mas indico fortemente para os fãs (que já devem ter visto), ou para quem gosta de animação japa (a maioria no projeto). Vale principalmente por isto, a variação dos traços nos desenhos.


A PRINCESA MONONOKE
Hayao Miyazaki é um gênio, adjetivo que não uso muito, pois sua banalização tira completamente a força que uma palavra como esta deve ter.

Diretor e roteirista deste filme, são realizações dele também o belíssimo "A Viagem de Chihiro", "O Castelo Encantado" e "Ponyo on The Sea".

E o que há de genial em Miyazaki?

Imaginação!

Nestes dias, ao prestar atenção ao meu filho, que não tem 2 anos, uma senhora bem simpática, de seus mais de 70 anos, ficou encantada, comentando como era belo o fascínio que um bebê tem por tudo que o cerca, seja um pedaço de isopor, um vagalume, um moeda, um gota de água da chuva... E discorreu como era uma fase bonita, que infelizmente ninguém retém, pois faz parte da vida a perda de tal encantamento...

Fiquei pensando sobre aquilo enquanto via a "Princesa Mononoke". É realmente impossível reter o fascínio infantil. Os únicos que o fazem, talvez, sejam os santos, os esquizofrênicos e outros seres catalogados medicamente.

É este mesmo poder de fascínio, de crença na plasticidade da realidade, que nos leva, quando crianças, a supor que existe um monstro debaixo da cama, que um vampiro virá à meia-noite chupar o seu sangue, que, além do arco-íris, um ponte de ouro, guardado por um leprechaum chamado Jerber, está prontinho para ser descoberto por nós...

Viramos adultos pela inevitabilidade fisiológica, cultural, emocional. Viramos adultos também porque nos acostumamos com o mundo, e praticamente nada nele nos encanta com aquela força de outrora. Como eu já tinha citado anteriormente, do Eclesiastes, com o vasto conhecimento, também vem o vasto enfado...

Mas nem tudo está perdido, parte de nós guarda a lembrança do fascínio, a qual surge em momentos específicos, quando nos encantamos por uma pessoa, por um objeto, por uma situação, por uma idéia...

E é este o sentimento que os filmes do Miyazaki me trazem. Sou transportado para uma realidade que não conheço, que não sinto que posso conhecer inteiramente, pois ela vem da cabeça de alguém de outra cultura, alguém genialmente criativo, sensível, aberto e... fascinante.

A história do filme não tem nada demais, para variar. Há um herói contaminado por uma doença mortal, há uma vila ameaçada pelos poderes dos deuses da floresta, há um imperador que deseja poder e há uma garotinha que foi criada por lobos, que tenta a todo custo defender a floresta e seus habitantes.

Por um lado, o filme é uma clara referência ao embate entre tecnologia (a vila de ferro) e ecologia (a floresta), entre os homens (suas ambições de poder, de conquista da natureza) e os animais (seus deuses, ícones, totens, e seu desejo de manutenção de um status quo em sintonia para os seres da floresta).

É o passado versus o futuro.

E, no meio disto, seguimos Ashitaka, o herói doente, em busca dos poderosos seres da floresta que podem salvá-lo de uma contaminação terrível, nunca muito bem explicada mas que, em certo momento, é dado a entender que é causada pelos homens, em uma analogia à poluição acabando com a vida.

E há a adorável San (a tal princesa Mononoke), que é uma espécie de arquétipo feminino e guerreiro, ligado à natureza, defensor da mesma. Mas não crie, Campello, uma idéia errada, não é um filme ideológico/ecológico. Há muita ação, boa pancadaria e desenhos magníficos... alguns assustadores.

Por fim, digo que há também uma tristeza no filme, ou nos filmes do autor... bem, talvez não seja nos filmes, mas em mim, ou em quem assiste... em parte pela saudade do fascínio infantil que se perdeu, em parte pelo poder, pela beleza que pode ser criada através arte humana... em contraponto às nossas vidas tão rotineiras, repetitivas, subservientes, sobreviventes...

Indico para qualquer um, mesmo sabendo que alguns não vão ver nada de especial no filme. Mas sei que, quem vier a ver realmente, em busca de fascínio, se encantará...

Abaixo, os links:

Um comentário:

  1. Emboiolou geral! Hehehe, brincando. Como já te disse, não gosto de desenho porque consegue ser mais triste que filmes como Precious, por exemplo. E isso é foda.
    Estou a fim de assistir a Clone Wars, dizem que é dugarái. Vou assistir ao do Hulk, não me lembro a última vez que assisti à animações... acho que foi Animatrix mesmo (e nem gostei tanto).

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