12.2.08

Oscar 2008, Desejo e Reparação

Um dos grandes mistérios do cinema nacional, pelo menos pra mim, é quem traduz os nomes dos filmes para o português. Mas não, não irei começar a dar exemplos de traduções idiotas, nem fazer aquela listinha clássica de traduções de nomes de filmes d'além mar.

Mas continuo sem entender o motivo de terem chamado "Atonement" de "Desejo e Reparação". Em inglês, "atonement" poderia mesmo ser traduzido por "reparação", ou "expiação". No livro que deu origem ao filme, de Ian McEwan, o título escolhido foi "Reparação", o que bastaria, não acha, Campello?

Só que os tradutores brasileiros têm outras idéias:


-Ah, poxa, poxa... o que eu coloco como título deste filme? - disse o tradutor.
-Hummm... como se traduz isto aí? - disse o publicitário.
-Atonement é... peraí... deixa eu entrar no Google - disse o "tradutor" - ... reparação!
-Porra, nome feio... não cola... não pode ser REPARAÇÃO MORTAL? - disse o "publicitário".
-Não, não... é quase um filme de arte... também tem "expiação" aqui como tradução!
-Expiação?!?! Cacete... EXPIAÇÃO MORTAL não dá, eu já coloquei este nome em um filme...
- Não, tenho uma idéia, o nome do outro filme do diretor é "orgulho e preconceito", então, por que a gente não coloca algo "... e reparação"?
-"Algo e Reparação", "algo e reparação", não é ruim... mas não acha muito vago?
-Não, bicha burra, "algo" seria outra coisa, não seria "algo".
-"Outra coisa e Reparação"? Não é muito mil novencentos e noventa e dois?

- Não, esfolada... a gente tem que pensar em alguma outra palavra e colocar antes do "reparação"!
- Hum, deixar eu ver aqui na minha agenda do hercovitch... as palavras que o público mais gosta são "mortal", "final", "invencível", "do barulho", "batalha", "malucos", "ninja", "vingança", "dois", três" e "quatro"... acho que o melhor título que já bolei é "a vingança final do ninja invencível 2", seguido de "ninjas malucos do barulho IV, a batalha final".
- Que tal Desejo?
-"Desejo e reparação"? Mas porque...?
-Porque é o que meu coração diz quando eu sinto este teu aroma de jasmin, meu abricó florestal...
-Ai, não fala assim que eu fico toda arrupiada.
-Calaboca e senta aqui!!!

Este é o meu melhor palpite para a forma que os nomes são escolhidos.

Voltando ao filme, "Atonement" se passa no ano de 1935, nos turbulentos anos que anteviam a Segunda Guerra Mundial, e conta a história de uma imaginativa, e aspirante a escritora, garota de 13 anos chamada Briony Tallis (Saoirse Ronan), que esta naquela fase perigosa, quando as meninas já se acham mulheres e estão desesperadas para ver a foice do primeiro mancebo que trocar duas palavras com elas.

O alvo das tentações mal-dirigidas/digeridas de Briony é o filho da empregada, Robbie Turner (James McAvoy), rapaz ali pelo começo dos 20 anos, que tem uma relação complicada e inexplicada com a irmã de Briony, Cecilia (Keira Knightley).

Inicialmente, o filme dá aquela impressão que você voltou 20 anos ao passado e está vendo "uma janela para o amor" ou "passagem para a índia", os filmes que fizeram a fama da duplinha Merchant&Ivory nos anos 80. Mas não, isto não é ruim se você gosta de produções "requintadas" e cheias de esmero cenográfico. Eu, particurlamente, gosto. Não por viadagem, mas porque acho legal ver que alguém está preocupado em contar uma história em seu devido contexto, com os detalhes pertinentes para situar a história.

Daí, quando eu achei que a história iria se conduzir como os filmes acima citados, há um "twist", uma "virada". A história é construída sob dois pontos de vista, e como estas visões diferentes podem ser ao mesmo tempo corretas e enganosas, dependendo de quem vê, dependendo do que alguém, limitado por sua idade, experiência ou vontade, pode ver... A mesma cena é repetida algumas vezes, recontada pelo filme e repercebida por nós!

Para tentar dar um aperitivo da coisa, digo que há um crime na casa (não vou entrar em detalhes do acontecido) e a percepção da imaginativa/criativa Briony acaba desembocando em prisão e sofrimento.

E onde entra a "reparação", o tal "atonement"?
Bien, o livro de McEwan é todo construído em cima de haver a possibiliadde ou não de "reparação" em cima do acontecimento chave da história.
Ainda, de haver a possibilidade de "reparação" através da arte, em uma interpretação mais "extensiva" da coisa.

Na segunda parte do filme, esta questão da literatura como meio de "reparação" surge, mas não me senti a vontade com o rumo tomado, como se fosse um excerto de outra história, como se fosse um ajeitadinho para amarrar o filme...

Assim que vi o filme, gostei muito. Gostei da cenografia, das atuações, da construção dos pontos de vista, até indiquei para alguns amigos. Depois de um tempo, vi alguns defeitos, mas continuo gostando do geral.

Indico para os fãs das grandes produções do passado.
Indico para os fãs de tecnicalidades de cinema (pela construção das cenas "duplas").
Indico para quem se amarra em um plano-sequência (aquelas cenas feitas em uma só tomada gigantesca).
Indico para os fãs das Keira Knigtley.

Por fim, as indicações do filme ao Oscar 2008 foram:

Atriz Coadjuvante ( Saoirse Ronan - Foi bem, mas não ganha!)
Melhor Filme (É bom, mas não creio que vá ganhar de "There Will Be Blood" ou de "No Country For Old Men")
Melhor Direção de Arte (Grande direção de arte, vale um Oscar, mas não vi todos da categoria, então fico quieto)
Melhor Fotografia ( idem ao caso de direção de arte!)
Melhor Figurino (porra, não dou palpite em roupa, cacete!)
Melhor Trilha Sonora Original (não reparei, sinceramente!)
Melhor Roteiro Adaptado (não posso opinar, não li!)

Em suma, talvez ganhe um prêmio "técnico" pelo visual apurado!

E, claro, aqui vai o link básico para o meu amigo de fé e irmão camarada CAMPELLO :) :

Atonement (legenda)

p.s.: E os peitinhos da Keira, hein, hein? :)

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