19.5.10

W.

Tipo do filme que eu já havia esquecido que existia, "W.", a produção bancada pelo diretor Oliver Stone que, em tese, iria demolir a figura de George W. Bush, só voltou aos meus pensamentos porque eu estava lendo uma matéria sobre Cannes, a qual contava a reviravolta na carreira de Josh Brolin.

E quem é Josh Brolin? Apenas o irmão mais velho em "Os Goonies"... nada além disto. Esquecido durante anos, Brolin aparecia em filmes meia-boca, feito "hollow man" e outras produçõesinhas para a tv. Até que os irmãos Coen o colocaram como o protagonista de "Onde os fracos não têm vez", e o cara mandou muito bem.

Daí foi um pulo para "Milk", onde obteve uma indicação ao Oscar, como ator coadjuvante, e "W.", que é do que eu estou falando!

"W." é a tentativa de retratar a vida e a obra de George Walker Bush, o ex-presidente dos EUA, feita por um diretor reconhecidamente "polêmico", vide filmes como Platoon, JFK, Natural Born Killers e, mais recentemente, "El Commandante" (sobre Fidel) e "South of the Border" (sobre a realidade, os governantes, que vivem ao sul da fronteira dos Estados Unidos).

O filme não é um documentário, há uma construção do roteiro baseada em um formato de ficção, isto é, existe um começo, um meio e um fim que são amparados em "drama", não tendo um total comprometimento com a verdade (qualquer que ela seja).




É uma escolha interessante, afinal, o protagonista está vivo, seus atos foram "cometidos" há bem pouco tempo, dramatizar em cima de algo tão recente deve ser feito com muito cuidado, pois qualquer coisinha pode levar a processo, problemas de distribuição, etc...

O filme se passa em dois tempos: em 1) vemos Bushinho "crescendo", bebendo, sendo um merdinha qualquer; em 2) vemos todas as discussões e resoluções que aconteceram em seu governo após o 11 de setembro.

Os fatos da parte 1) são basicamente conhecidos: Bushinho era alcoolatra, um zé ninguém que se aproveitava da fortuna da família, seu pai não lhe dava valor, vivia metido em confusão e só queria curtir...Em uma certa altura, Bushinho vira o cão, consegue convencer tudo e todos, tendo como motivação principal a vontade de satisfazer o pai, que sempre o preteriu em nome do outro irmão, Jeb. Vence o alcoolismo, com a ajuda do Senhor, vira governador, depois presidente, para orgulho do papai.

Os fatos da parte 2) também são bastante conhecidos: Bushinho ataca o Afeganistão atrás de Bin Laden, depois quer porque quer atacar o Iraque, pois, é óbvio, Saddam tem armas de destruição em massa.

Quando terminei de ver, foi inevitável a comparação com o recente "Lula, o filho do Brasil", que não é um bom filme. No filme do Lula, os fatos por trás do filme são incríveis, tortuosos, emocionantes... mas o roteirista, o diretor, não fizeram um bom trabalho dramaticamente. Não estou falando do bem ou do mal que Lula possa ter feito e não tenha aparecido no filme, falo de qualidade do produto apresentado. Com uma história de vida tão impressionante, Lula teria que ser um filmaço, mas acaba por ser meio chapa-branca, meio chatinho.

Já "W." é diferente. O roteirista, o diretor, os atores, tudo é excepcional. A atuação de Josh Brolin deveria ter merecido muitos prêmios, em certos enquadramentos, ele É George W. Bush!!! Não foi à toa que Woody Allen considera que a interpretação dele é uma das melhores que ele viu na vida.

Mas há um problema, o filme é chapa-branquíssima também :)

Claro que é mostrada uma enorme quantidade de defeitos de Bushinho, mas estes acabam sempre em redenção. Tudo que aconteceu com ele foi por causa do paizinho, que lhe preteria! Ele bebia pra esquecer isto, olha que fofinho!!! A riqueza e a pressão, ai, que coisinha... tadinho!!!

E ele encontra JESUS! Porra fucking Jesus!!!! Daí, ele consegue tudo, à base da reza :)

Mas não é isto que me incomoda, esta parte pode até ser relevada, afinal, pode até ser bem sincera.

O problema é a segunda parte. Bush em guerra pós 11/09.

Só em pequenos momentos, muito sutis, é que algumas coisas escapam. Você pouco ouve alguém falar da incompetência da CIA em prever o ataque. Você só ouve uma vez alguém dizer que o ataque foi "ótimo" para Bush, porque fez todo mundo esquecer da ladroagem que ele perpetrou nas eleições contra Al Gore (isto não é tocado no filme, e é um dos assaltos mais gritantes da história da Democracia, em todos os tempos, o cara PERDEU!!! PERDEU!!! E vou empossado graças ao STF de lá, "para não abalar a Democracia"!!!!). Você só ouve uma vez alguém mencionar que o objetivo ao invadir o Iraque era PETRÓLEO!!!

Bush e sua equipe de pilantras, Karl Rove, Rumsfeld, Colin Powell, Condolezza Rice, poxa, todos tão patriotas, todos tão preocupados com a democracia no Iraque, não é?

E as mentiras sobre as armas de Saddam? Segundo o filme, foram "relatórios equivocados"! Não foram falsificações premeditadas! Que bandidagem, hein, seu Oliver Stone! Bush e a cambada como bem intencionados é FODA!

Além disto, as trapalhadas, as idiotices, as idiossincrasias, todas ficam em segundo plano, sendo raramente tocadas, ou melhor, praticamente não aparecem! Já o fanatismo de Bushinho aparece aqui e ali, mas não significativamente. Não é mostrado, por exemplo, o quanto ele apoiava que o "criacionismo" fosse ensinado nas escolas dos EUA, em pé de igualdade com a teoria da evolução.

É por isto que a chapa-branquice acaba por estragar o filme. É uma biografia praticamente limpa, até quando Bushinho é ruim, ele é bom... até quando é idiota, tem um motivo pra ser... e nada de realmente importante é mostrado...

Só indico para gente feito o Campello, que é anti-comuna :) Ou para quem quer ver um filme bem construído, com grandes atores.

É tudo.

3 comentários:

  1. Baixando (sem ler o post, depois eu comento)...

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  2. Cabeção... não gostei do filme. Realmente as interpretações são foda, mas não salvam o filme. Uma miérda mesmo, sem sal e, como você, no meio do seu piti, falou: chapa-branca. Prefiro os documentários teoria-da-conspiração que V.Sa. indica.

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