Havia um crítico de rock americano, não me perguntem quem, que disse que só existiam realmente 5 músicas de rock. Todas as outras eram variações sobre estas tais. Este é o tipo de historinha apócrifa que gosto de lembrar, mais ainda se eu soubesse quais são estas 5 músicas.
Ao ver "An Education" (Educação), fiquei pensando se existem só 5 maneiras de fazer um filme sobre a maturação de uma jovem mulher, já que a história não tem nada de surpreendente. Quantas vezes você não viu o seguinte filme (ou até mesmo teve uma amiga/irmã/conhecida que o viveu): adolescente de 16 anos, concentrada nos estudos, conhece homem mais velho, charmoso, educado, que dá toda a atenção que ela quer e a faz sentir-se como uma mulher, diferente dos garotos do colégio, que são apenas sacos de hormônios ambulantes :)
Eu creio que, em uma rápida busca na memória, posso citar uns 5 filmes e umas cinco histórias de alguma jovem que conheci.
Por sorte nossa, o filme é bem dirigido por um(a) tal de Lone Scherfig e, principalmente, roteirizado pelo Nick Hornby. Para que não conhece, Hornby é o cara que escreveu os livros que deram origem a vários filmes bem legais, como Alta Fidelidade e Um Grande Garoto.
Quem já leu Hornby, ou viu as adaptações de seus livros, sabe que ele é um escritor leve, frequentemente engraçado, e que não costuma adentrar em grandes questões moralistas ou metafísicas. E talvez seja aí o pulo do gato de "An Education".
A jovem Jenny (Carey Mulligan) vive nos anos 60 e só tem uma preocupação na vida: melhorar o seu Latim, para que seu pai pare de torrar sua paciência, pois ela TEM QUE ESTUDAR EM OXFORD. Aquele velho caso de pressão familiar pra passar no vestibular de medicina. A vidinha dela segue entre as aulas de cello, uma paquerinha com um colega da idade dela e o cotidiano familiar, até que surge David (Peter Sarsgaard), em seu carro cool, seu sorriso fácil e muita gentileza.
Inicialmente, a impressão que dá é: putz, este cara é um tarado, olha a cara dele, o olho caído como se estivesse sempre meio chapado, as gentilezas com uma jovem ainda não totalmente formada...
Mas o rumo não é por aí, a "educação" do título é justamente o mundo que David apresenta a Jenny. Bons restaurantes, leilões de arte, grupo de amigos que, volta e meia, vão a Paris. Enquanto isto, o charme de David dá conta dos pais de Jenny, que não tem dificuldades de dobrar o pai dela, muito bem representado pelo Alfred Molina, um pai crível.
E o filme vai passando fácil, com Jenny maturando a olhos vistos. A beleza infantil, rosada, da atriz dá lugar a uma espécie de Audrey Hepburn com uma linda capacidade de dançar mexendo os ombros (a melhor cena do filme!).
Para que você, Campello, não fique fazendo estes posts me acusando de ser um atirador de spoiler, páro por aqui de contar o filme.
Mas indico, pelo roteiro simples e bem amarrado, pelas atuações de Mulligan, Molina e Sarsgaard... e, bem, pela presença da Rosamund Pyke, que é um deslumbre :) Primeira vez que a vejo fazer um papel de loira burra, saiu-se muito bem.
Em papéis "menores", ainda temos a Olivia Williams e a Emma Thompson, como a professora incentivadora de Jenny e a diretora da escola, respectivamente.
Achei o filme muito mais "simpático" do que o "amor sem escalas", se eu pudesse apontar um filme queridinho do ano, "an education" ficaria ali perto de "500 dias com ela" (mas este é outra história, que conto qualquer hora, Campello).
Abaixo, os links de sempre:
Legenda (pt-br)
E, antes que eu vá embora, os SPOILERS que você tanto ama, Campello , estão abaixo. marque com o mouse:
O motivo de eu ter gostado muito do filme foi, como dito acima, principalmente as atuações e o roteiro bem costurado. Mas há outros motivos. O crescimento de Jenny é muito bem conduzido, em nenhum momento você questiona se vê qualquer buraco na diferença entre a garotinha do começo do filme e a jovem mulher do fim. É claro que alguma coisa tinha que dar errado, se não, o filme não existiria. E o que dá errado, é claro, é que David não é exatamente o que Jenny pensava. Mas também não era o que eu pensava, nem o que você vai pensar. Há uma certa ternura no personagem, mesmo se mostrando um ladrão e um covarde que seduz mocinhas. Apesar de seus evidentes defeitos, David realmente "educou" Jenny, em vários sentidos, inclusive :) Mas tudo de uma maneira enamorada, o que aliviou um pouco a barra dele aos meus olhos.
Esta história toda me fez lembrar de alguém que conheci há muito tempo, que tinha características muito similares a Jenny, até fisicamente. Não sei o que dá na cabeça das jovens mulheres, mais ainda nas bonitas/inteligentes, que têm certeza que podem, através do recém-adquirido poder sobre os homens, conseguir tudo que querem deles. Talvez seja algo biológico, ou até mesmo cultural. Talvez seja o primeiro momento em que uma mulher em nossa sociedade ganha algum tipo de poder, com aquela mistura de inocência e sensualidade que deixa todos os homens babando.
O filme tem um final praticamente feliz, Jenny vai a Oxford, ser mais independente ainda, conhecer ainda mais do mundo, continuar sua educação. E o personagem é inteligente o suficiente para notar que as experiências devem ser vividas ao seu tempo, e que, em Oxford, tudo que ela fez antes com David, seria de um tempo mais apropriado, de uma capacidade emocional mais adequada. Afinal, garotas de 16 anos, por mais "experientes" que sejam, por mais "inteligentes" que sejam, no máximo, podem ter 16 anos. Algumas têm menos, mas nenhuma tem mais...
Adieu :)
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