Michael A. Cremo (1947- ) é um autor americano intimamente ligado à movimentos de criacionismo, mais precisamente os ligados às concepções do hinduísmo. Segundo suas próprias palavras, ali pelo fim dos anos 60, após cuidadosamente estudar o Bhagavad-gita, um presente dado por Hare-Krishnas em um show do Grateful Dead :), ele decidiu que deveria se dedicar em tempo integral à devoção do Senhor Krishna, mudeou-se para Los Angeles e se juntou à International Society for Krishna Consciousness.
Na década de 80, com o também escritor Richard L. Thompson, iniciou uma série de estudos que culminaram na publicação de "Forbidden Archeology: The Hidden History of the Human Race” , livro pelo qual tentam demonstrar que, nos últimos 150 anos, arqueologistas e antropologistas acumularam uma vasta quantidade de evidências que demonstrariam que humanos, em sua forma moderna, têm existido neste planeta há “dezenas de milhares de anos”, e que a ciência oficial suprimiu, ignorou e esqueceu estes fatos/dados porque os mesmo contradizem o paradigma aceito a respeito da evolução humana.
Na minhas peregrinações para descobrir novos livros de pseudo-ciência, ou de proto-ciência, ou mesmo de boa farsa-ciência :), descobri o nome do Cremo quando procurava algo sobre mineração de ouro na pré-história (isto é uma outra história). A versão completa do “Forbidden Archeology” nunca foi lançada no Brasil, principalmente porque são quase 1000 páginas, o que não alenta muitos os interesses das editoras brasileiras por lucro. Acabei comprando a versão condensada, lançada no Brasil: “A História Secreta da Raça Humana”.
O livro é basicamente uma exposição de dados coletados em diversas partes do mundo que apoiariam a versão de Cremo e Thompson sobre a criação do ser humano no planeta Terra, abertamente declarada criacionista.
A palestra foi traduzida in loco por um integrante da comunidade hare-krishna de Recife, o que deixou bem claro, mais uma vez, a posição ideológica/teológica de Cremo. Ao fim, tive a oportunidade de conversar sozinho com Cremo, que foi muito simpático e respondeu várias de minhas perguntas (em meu inglês capenga e nervoso), e mais, disse-me que as “explicações” dele para a presença dos humanos em um passado tão remoto seriam publicadas em breve, em um livro chamado “Human Devolution: a vedic alternativa do Darwin´s theory"
E foi este livro que comprei quando quis fazer a minha primeira compra de livros internacionais.
Em um belo exemplar de Hardcover, o livro me impressionou muito pelo acabamento, o que gerou então uma grande expectativa pelo conteúdo.
Pela primeira vez, Cremo deixou bem claro suas posições criacionistas em seu trabalho. Não que alguma vez tenha negado, mas ele sempre preferiu abordar os temas de seus livros apenas pelo viés do acúmulo de dados, o que foi uma grande tática, pois até se pode duvidar, criticar o trabalho dele, mas o cara realmente conseguiu reunir um conjunto de "evidências" muito impressionantes.
Segundo Cremo, amparado pelos dados anômalos que colheu e por suas convicções religiosas, o Homem não EVOLUIU de seres inferiores, como o macaco e o que mais veio antes dele na progressão oriunda do pensamento darwinista, mas sim INVOLUIU de seres "superiores", de "puro espírito" para a forma mais "rasteira", mais "grosseira", do ser humano atual. E seria por isto, entre outras conclusões, que não existiria qualquer "elo perdido" entre o homem e o macaco.
Para o autor, somos todos formados da integração de 3 coisas: corpo, mente e alma! A alma, criada por Brahma, seria "involuída" para se "acoplar" nos corpos concebidos, que, se tiverem saúde, se completariam com uma mente saudável :) !
Cremo se utiliza muito do pensamento de Alfred Russel Wallace, um respeitado cientista britânico que, junto com Darwin, ajudou a pavimentar a Seleção Natural nos meios científicos, o que parece ser, a princípio, um tanto contraditório, visto que o livro de Cremo está o tempo inteiro desdizendo o darwinismo. O fato é que Wallace, apesar de acreditar nos aspectos gerais da teoria, afirmava que "faltava algo" para que a teoria ficasse completa, o que o fazia acreditar em "inteligências superiores", ou seja, algum tipo de "deus" :), dirigindo a "evolução".
Vários capítulos do livro também são dedicados a tentar deduzir o que seria a alma, a consciência espritual pura, visto que este seria o ingrediente principal do que nos tornaria seres humanos. Alguns temas bem interessantes são discorridos, como por exemplo a reincarnação (também em consonância com o hinduísmo que o autor segue) e o velho dualismo mente-corpo cartesiano.
Ao fim, creio que este livro está inserido em uma nova moda, a de uma espécie de neo-criacionismo, cuja tática é usar argumentos "racionais" para conseguir simpatizantes e garantir munição para os crentes mais afoitos, no intuito de espalhar o seu proselitismo religioso. É esta mesma moda que tenta, a todo custo, inserir o "design inteligente" como equiparável à ciência nas escolas de todo mundo. Aqui mesmo no Rio, terra do cretino e corrupto casal Garotinho, tentou-se incluir este tipo de disciplina nas escolas fundamentais.
Ao fim, indico para muito poucos, pois o livro segue uma interpretação muito particular de conceitos muito controversos. Explico:
- Se você é brasileiro, provavelmente é cristão. Se você é cristão, não vai gostar de ler sobre Brahma criando a existência e os seres humanos, evoluindo ou involuindo;
- Se você é ateu, como eu, também vai achar o papo meio foda, apesar d'eu adorar as viagens "arqueologia proibida", "dados anômalos" e temas correlatos;
- Agora, se você for hare-krishna, se gosta de arqueologia "alternativa" e de idéias controversas, encontrou o seu livro :)
p.s.: O Campello adora Brahma, e Antartica, e Skol, e Bohemia... e BELCO!
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