12.1.10

Up in the air!

Este filme me fez lembrar das Havaianas. Não as moças dançando Hula-Hula, mas as sandálias. Houve um tempo em que as Havaianas eram coisa de pé rapado. Só existia, basicamente, em um modelo: verde gosma com branco. Ninguém usava, só a peãozada, só as empregadas domésticas, os jardineiros, os garis, os mendigos... Mas aí, alguém inventou estas sandálias para o mundo pop. A sanha de absorção do mercado cooptou o produto e, hoje, é comum ter amigos que compram aos montes delas para levar para Londres, ou Paris, e revender a preços exorbitantes.


E o que isto tem a ver com "Up in the Air" (Amor sem escalas), o novo filme de Jason Reitman (Juno)?


É o meu já batido argumento do filme "indie". Aqueles filmes que hoje são feitos segundo uma fórmula: aparentemente independentes, cheios de musiquinhas de bandinhas legais, montagem eventualmente não-convencional, muito sarcasmo e até os cabelos dos atores precisam de 4 horas para ficarem perfeitamente despenteados.


Jason Reitman praticamente fez um upgrade de Juno. Uma história melhor, um elenco melhor, mais grana, melhor equipamento, melhor distribuição, etc, etc, etc...




Se há tanta coisa melhor, por que eu tô implicando com o filme? Talvez por causa da tal fórmula que está se repetindo demais, talvez porque o filme não tenha um protagonista cativante, talvez porque eu sou chato pra cacete quando quero pegar no pé de alguma coisa.


Mas tudo bem, bora lá. O filme conta a história de Ryan Bingham (George Clooney), uma espécie de "desempregador profissional", isto é, o cara é pago para despedir pessoas da melhor maneira possível... e adora isto. Não pelo prazer de ver a dor estampada na cara das pessoas mas porque o trabalho lhe permite viajar o tempo inteiro, não ter casa alguma, nem relacionamentos, ou qualquer outra coisa que o prenda na vida.


O personagem leva isto tão a sério que até dá palestras motivacionais sobre como a vida das pessoas pode ser reduzida a uma pequena mala, onde só constaria o indispensável para sobrevivência básica. Mas o básico para ele não é canivete suiço, pastilhas de desintoxicação de água ou coisa parecida. Para ele, o básico são ternos, camisas, cartões de fidelidade aérea, meias, e nenhum laço emocional com o que quer que seja. Isto é, o básico é ele e mais nada.


(PEQUENO INTERLÚDIO PESSOAL: O engraçado, para mim, é que este começo de filme ressoou com algo que venho pensando ultimamente: me livrar de todos os pesos da minha vida, para que toda ela caiba em "duas mochilas". Apesar disto, não me identifiquei em nada com Ryan pois, ao contrário dele, o meu desapego surge justamente da importância que existe nos relacionamentos entre as pessoas, e não nas coisas que elas possuem ou são possuídas por elas.)


Só que a vida "idílica" de Ryan está para ser abalada quando surge a jovem-executiva-ambiciosa-cdf Natalie Keener (Anna Kendrick), que propõe um corte drástico nas despesas da empresa: ao invés de mandar profissionais para despedirem pessoas, ela cria um sistema onde tudo pode ser feito pela internet, o cara pode então ser despedido virtualmente. A novidade abala demais Bingham, afinal, o barato do trabalho dele é se sentir livre-leve-solto, viajando por todo o país, no strings attached!


Neste meio tempo, Ryan conhece uma outra executiva que gosta das mesmas coisas que ele: dinheiro, viagens, sexo casual, a personagem Alex Goran (Vera Farmiga), que é o "alvo romântico" do protagonista.


O filme então se desenvolve através das viagens de Ryan e Natalie através do país, com ele passando a experiência de despedir pessoas para que ela possa criar um algoritmo para qualquer um despedir pessoas pela internet. E com os encontros casuais com a personagem Alex, entre uma viagem e outra pelo país.
E aí? Se eu lesse uma sinopse como esta, pensaria: isto só presta se for uma comédia.
Não é uma comédia. Até, às vezes, tenta levemente ser, mas está mais para aquele filme que "tem uma mensagem" :)


O que vale então no filme? Vera Farmiga :)


Não, não, brincadeira. O filme vale pelo apuro técnico, Campello. Lindas imagens aéreas dos EUA. Uma montagem relativamente interessante. Bons atores coadjuvantes (Sam Elliot, JK Simmons, Jason Bateman, Zach Galifialgoquenãoseiescrever). Clooney está, mais uma vez, fazendo o papel de George Clooney: eu sou gostoso, implacável, charmoso, falo bem, transo bem, e ainda sou macho pacas!!! Anna Kendrick é uma boa surpresa, aparentemente uma atriz fraquinha, inexpressiva, consegue convencer muito bem em sua personagem. Já a Vera Farmiga... se não tiver usado uma dublê de corpo, meu amigo Campello, tá gostosa pra cacete... lembrou-me a Salma Hayek em "um drink no inferno", aquele impacto tremendo de uma escultura renascentista!!! (ok, ok, sai de cena, punheteiro!).


Ao fim, não digo que o filme seja ruim de nenhuma forma. Mas também não acho o filme minimamente relevante.


(Interlúdio: chamo de relevante o filme que eu gostaria de rever, ou que eu indicaria fortemente para alguém, ou que posso até não gostar mas sei que é bom)


O estranho é que ele está cotadíssimo para vencer vários Oscars, inclusive já vem ganhando prêmios pelo mundo afora.


No me gusta. No puedo explicar por qué.


Creo que es una suma de todo que lo he escrito hasta ahora. Tambien, yo no se por qué empecé a escribir en español (usando o google).


Acho que vai ser o filme queridinho do ano, o Juno, o Pequena Miss Sunshine... embora não tenha a graça pipoca destes outros dois.


Então, vai lá, Campello, assiste e me diz o que você achou, meu querido.


Aqui, pra variar, os links:




Legenda (pt-br)


Um beijo, um abraço e uma saudade :)


p.s.: acho que o meu grande plano com este blog é acabar com o seu noivado ;)



P.P.S.: Eu estava pensando se valia colocar Spoilers sobre o filme, decidi que sim. Então, se você quer ler abaixo, marque o parágrafo com o mouse:


O problema do filme começa com o personagem central, Ryan. Quem empatiza com um cara que despede pessoas sem o mínimo remorso, não tem qualquer relacionamento com as pessoas em volta e ainda faz palestras "motivando" os outros a seguir o que ele faz?
Acho que quem escreveu o roteiro, ou até mesmo quem escreveu o livro (é um roteiro adaptado), deveria ter dado alguma coisa para a gente mastigar e engolir o personagem. Não precisaria ser muita coisa, apenas alguma motivação para aquele comportamento à beira da psicopatia (não assassina, mas emocional!). Este é um problema tão flagrante para mim que, em certa altura, vi como protagonista muito mais a personagem da Natalie, pois com ela havia empatia, dava para torcer pelo seu fracasso ou sucesso, dependendo do ponto-de-vista. Até mesmo a Alex é um personagem mais dimensionado que Ryan, principalmente pelas cenas finais dela.
Outra coisa que acho problemática é que o filme é do tipo "pedra cantada", isto é, você sabe que algo vai acontecer com Ryan. Quando ele vai ao casamento da irmã, você sabe que vai haver um momento de "ligação entre os irmãos". Quando ele vai procurar Alex, você sabe que alguma coisa vai acontecer, e não será boa.
Este é um filme que cai no dilema FINAL TRISTE X FINAL FELIZ. Qual o final "apropriado"? Se o personagem de Ryan fosse mais simpático, ou o filme fosse mais engraçado, o final "feliz" seria praticamente obrigatório. Nem que fosse um feliz um tanto triste, já que Alex tem uma família "de verdade". Só que, o final chega e... quem se importa?!?! Ele está voltando para a mesma coisa, está mudado... mas e daí?!?!?!
Não sei, acho que o Jason Reitman gosta de personagens "desdramatizados", personagens "desajustados-mas-nem-tanto". Juno é um exemplo. Vejam Juno hoje e reparem o quanto ela é uma tremenda chata, egocêntrica e "desdramatizada".
E o filme termina com Ryan... sofrendo? É? Sei lá... parece que sim, né? Afinal, ele teve o que merecia, né? Não queria ter ligação com ninguém, se deu mal, né? Sei lá!
Esta é a "mensagem-do-filme" :)

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